O presidente da CTU , coronel João José de Albuquerque , anunciou esta semana , com uma ponta de orgulho , que o Recife está tentando se igualar aos grandes centros urbanos , como o Rio de janeiro " e outras cidades desenvolvidas do mundo " , retirando os cobradores dos ônibus opcionais.
Esse é um dos enfoques mais delicados do momento : a prevalência da mentalidade tecnocrática sobre a mentalidade humanística . O tecnocrata quando examina fatores de produção considera fundamentalmente a produtividade e rentabilidade . O homem não é uma peça fundamental em seus esquemas e em suas teorias, a não ser como manipulador da engrenagem maximizada em seu objetivo final: o lucro .
Daí o embate entre defensores da privatização dos meios de produção e os defensores da estatização . Contra estes últimos , os tecnocratas levantam a bandeira da falência da empresa pública onde ela se implanta . Deixando de lado exemplos como a Petrobrás . Vão buscar exemplos até mesmo nas nações socializadas, onde se detecta dificuldade de administração e de produtividade, enquanto a filosofia da privatização levanta a bandeira de lucro e desenvolvimento dos empreendimentos .
Parece ser dentro desse quadro de reflexão que atua o presente da CTU , sem considerar , entretanto, que o nosso caso é de sobrevivência pura e simples milhares de pessoas . Desempregados, os cobradores terão pela frente o mercado de trabalho esgotado ou aviltado aos seus mais baixos índices salariais . Os que tiverem a extrema felicidade de encontrar um trabalho , o farão enfrentando uma rigorosa competição por um salário muito aquém da sobrevivência . Uma alternativa que não terá pesado nos estudos do presidente da CTU , que procura apenas levar sua empresa aos níveis " das grandes cidades do mundo ".
Texto originalmente publicado na edição 68 , em 12 de março de 1978 no Diário de Pernambuco .
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